Mário Cabrita Gil

DISCURSOS - II          

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1999

"Discursos" - Exposição em Leiria comissariada por Ana David, para o Museu da Imagem.

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Corpos de Prata

Por JOÃO PINHARANDA

Domingo, 5 de Dezembro de 1999

De prata porque a perfeição do ouro não resiste à perfeição da realidade. Mesmo assim, de

prata porque se a idade que vivemos é bem mais de bronze que de um nobre metal, é ainda

com o espelho branco da prata que podemos sonhar a eternidade do que é efémero. De prata,

finalmente, porque na história velha da fotografia os sais de prata tiveram decisiva importância

na fixação e revelação das imagens.

Finalmente, reduzidas a uma dimensão exponível - embora grandes (122x156 cm) o seu

tamanho actual não é comparável com o que tomaram aquando da sua integração no projecto

da Sétima Colina (no âmbito da programação de iniciativas para a Lisboa Capital Cultural,

1994). Então, um restrito conjunto de outdoors subia do Cais do Sodré ao Príncipe Real,

acompanhando a marcha de renovação urbana aí praticada. Dois bailarinos nos quais se

confronta, em oposição, a cor da pele e o sexo, ensaiam a nu, poses fragmentares (nunca

qualquer rosto se identifica ou corpo se desnuda inteiro) de tensão evidente. Nelas se revela

um jogo de domínio e poder, de sedução e afecto. Sem nunca se desviar de um esteticismo

equilibrado, sem nunca criar rupturas com a elegância da composição e a suavidade do

imaginário comum as fotografias de Mário Cabrita Gil procuram um equilíbrio classicizante.

E confrontam-se, ainda nesta exposição, com uma série anterior (datada de 1986). Aí o

fotógrafo dava conta dos protagonistas da movida lisboeta dos anos 80. A série teve uma

exposição na galeria Cómicos (actual Luís Serpa) e foi editada em livro sob o título "Idade da

Prata". Tratava-se, noutra dimensão, de falar do que não podendo também ser ouro desejava

evitar a decadência do bronze... São retratos de gente que passou ou que ficou, que deu a cara

e a vontade criativa a uma situação já histórica. Os corpos dos bailarinos não envelhecerão

nunca - por não terem alma. Os heróis concretos de uma década já estão velhos quando posam

para o fotógrafo - por esse golpe de alma sobrevivem.

 

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